Jussara Lucena, escritora

Textos

Movimento

Praça Rui Barbosa. Meu ônibus não parte. Um sujeito inicia a contagem das pedras brancas na calçada, avança um passo, retorna ao ponto de origem e reinicia o processo. O cego atravessa a rua indiferente ao movimento, acredita na visão daqueles que não têm olhos para ele. O pastor prega aos surdos. A noiva circula com a grinalda suja pelo tempo. A senhorinha agarra-se a bolsa, protegendo o pouco que lhe resta. O policial persegue os pivetes, mesmo sem querer alcança-los. O estudante enterra o rosto no livro, esperando que o mundo se abra para ele. O jornaleiro pendura as notícias do dia sem ao menos lê-las, enquanto reclama pela informação solicitada. O mendigo, indiferente ao movimento, urina ao pé da árvore e os pombos defecam por toda parte, completando a mistura de odores. Olho para o ônibus na Canaleta do Expresso, me parece uma lagarta, esperando pela sua metamorfose, quem sabe mais um futuro exemplo da cidade modelo-urbano. A porta se abre, amanhã a história se repete.

Texto selecionado no Concurso Conto Curitiba, promovido pela Freguesia do Livro.

Adnelson Campos
14/04/2017

 

 

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